Imaginem a cena. O mundo tá acabando, maremotos, terremotos, pestes, erupções vulcânicas, Botafogo campeão brasileiro, chuva de meteoros, nuvens radiativas em todas as partes, alienígenas mandando raios a torto e a direito e os mortos teimam em sair das tumbas. É, o negócio tá feio. Quando você já se dá por vencido, crente que é o fim dos dias, eis que no horizonte surge uma luz salvadora. Aliás, duas.
Os nossos salvadores aparecem apenas com um fuzil cada um. De um lado Charles Bronson, do outro Colin Farrel. Eles te explicam que são as últimas esperanças da humanidade e que, com muita porrada, vão salvar a todos. Eles vão brigar em dois frontes e terão que dividir os sobreviventes. Que lado você escolheria? Se fosse o do Bronson, estaria feito. Salvação na hora. Se fosse o do Farrel, fudeu-se. Vai virar adubo.
Toda essa enrolação é para fazer notar como os heróis de hoje, mais especificamente do cinema, não têm cara de herói. Quem, em sã consciência, se ofereceria para lutar ao lado de Orlando Bloon contra o sultão Saladino, como no filme Cruzadas? É ruim, hein! Encarar um exército turco tendo comandante um cara que parece ter saído do São Paulo Fashion Week, nem fudendo.
Herói de verdade tem que ter cara de mau, de um grandíssimo filho da puta. Herói metrossexual não dá. E não se trata de preconceito contra os marmanjos que fazem as unhas, passam creme antes de dormir e combinam o cinto com as meias. O negócio é que nessas horas não dá para confiar num cara assim.
As meninas podem gostar, até porque o mundo um dia acaba e a gente nunca vai saber do que as mulheres gostam. Mas, cara, falando sério, o que predomina em Hollywood é o mocinho com rosto de Barbie. Johnny Deep é um puta ator e Brad Pitt quando faz papel de maluco se sai bem, mas nunca seriam capazes de salvar o dia. Seriam capturados e seviciados pelos inimigos.
Basta lembrar que sucessos recentes como O Gladiador e O Senhor dos Anéis tiveram protagonistas com jeitão de tio mais velho que te leva ao campo de futebol, mas era para ver o Doutor Sócrates e não David Beckhan. Se eles fossem parecidos com aquele amigo do seu irmão que chega na sua casa, fica no espelho ajeitando o cabelo milimetricamente desarrumado e, antes de sair, comenta "Vou pirar o cabeção na balada", o ex-general romano nunca teria tido sua vingança (aliás, nem chegaria a general, no máximo seria alferes) e as forças de Mordor tomariam conta da Terra Média.
Herói, aquele cara em quem você confia cegamente a própria vida, não tem que ser bonito. Nem deve. Tem que ser feioso e com um simples olhar fazer o inimigo se cagar de medo. John Wayne, grandão, desengonçado e barrigudo, matava em média dez índios por dia numa época em que índio bom era índio morto.
A falta de um modelo decente para herói prejudica até as outras classes. Não se acha mais nenhum vilão decente. Bons tempos em que ao se entrar no saloon e deparar-se com Lee Van Cleef a gente já sabia que ali residia 95% de todo o mal que um homem pode ter. Se ao invés dele quem estivesse lá fosse Tom Cruise, o máximo que se acharia é que aquela era a puta mais feia do estabelecimento.
Para mim tem mais valia ver pela milésima vez Clint Eastwood mandando bala pelas ruas de San Francisco do que Ewan McGregor empunhando um pinto de luz contra o lado negro da força.
Fenômeno semelhante acontece também com as "beldades" de hoje em dia, mas isso eu trato em outra oportunidade.
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pelo Anônimo às 17:50 | link
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