Levo uma vida desregrada. Álcool, cigarro, drogas lícitas, mulheres, rock’n roll. Isso tudo sempre foi bom, mas me atrapalhou em meus dois últimos empregos. Fui despedido de ambos. Chegava atrasado para a loja de aterro onde era vigia noturno. Na escola onde era monitor fui pego bebendo junto com duas meninas de 11 anos (foram elas que levaram a cana).
Tudo isso me fez repensar o caminho que estava trilhando. Foi quando caminhava pelas ruas que algo aconteceu. Estava em frente a uma dessas igrejas evangélicas e uma moça me convidou pra entrar. Bem bonitinha ela. Perguntei se não preferia um barzinho que tinha mais adiante. Ela insistiu. Aceitei. Como disse, era bem feitinha a moça.
Lá ela começou a me contar umas coisas esquisitas. Algo sobre um livro chamado Bíblia e o rapaz que protagoniza a história. Um tal de Jesus. Acho que era isso. Tava prestando mais atenção nas pernas dela. A história até que era envolvente. Tinha sangue, velhos tendo filhos, virgens parindo, tentações dos diabos, mais sangue e no final tudo terminava com explosões, dragões e umas duas ou três bestas.
A moça pontuava todas as falas com a expressão “Oh, Glória!”. E haja história. Ela não parava de falar. De vez em quando cantava “estou trilhando esse caminho / ele me levará ao Senhor de tudo / Ele tudo pode / Ele tudo pode”. Acho que ouvi essa canção em O Mágico de Óz, mas faz tempo que vi esse filme e não me lembro bem.
Ela tava empolgada porque eu realmente prestava atenção, mas o que ela não percebia que enquanto cantava um botão da camisa soltou e ficou aparecendo um pouquinho do seio esquerdo. “Oh, Glória!”, eu disse. Ela não se conteve e levou a mão à minha testa. Mandava sair todo o mal que havia dentro de mim. Porra, se saísse tudo de uma só vez não ia caber naquele templo, sem falar do cheiro que ia ficar.
Ela gritava, dançava, era um frenesi só. Eu já tava na onda. Ia de um lado para o outro gritando “Oh, Glória! Oh, Glória!”. Foi então que ela reparou na camiseta que eu usava. Era a do site em eu escrevo junto com amigos, o RessacaMoral. “Que é isso?”, perguntou. Respondi que era coisa da Internet. “INTERNET?! INTERNET?!?!? Isso é coisa do diabo”, ela gritava. “É sim, mas vamos deixar isso de lado e voltar pra dança que eu to em ponto de bala”, disse, mas ela me expulsou do templo tal qual aquele cara do livro (como era o nome dele?) fez com os vendilhões.
“Não vai rolar o barzinho?”, gritei lá de fora. Não rolou. Fui pra lá sozinho. Antes do primeiro gole encontrei outro fiel pregando. Ele virou pra mim e disse “Jesus te ama”. Dei-lhe uma porrada. Se há algo do qual não gosto é injúria. Nem conheço esse tal pra dizer que me ama.
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pelo Anônimo às 22:07 | link
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