segunda-feira, março 14, 2005

"ÁTICA! ÁTICA! ÁTICA!" - Grito dos funcionários em greve da editora Ática, 1983.

Primeiro amor
Por Wilson Cremonese

Garotos, garotos.

Meirianne foi minha primeira namorada. Por isso e por outro motivo ela ficou marcada em minha memória. Foi a primeira a me dar um fora. Duas vezes. Da primeira vez fiquei magoado. Na segunda, puto. Era namorada do tipo de freqüentar a casa dela, tomar cerveja com o pai e até esquecer de dar a descarga no banheiro. Com o tempo a relação esfriou e ela disse que não me queria mais por perto. Homem que sou não via nada de errado. Ela reclamou que não era romântico.

Confesso que romantismo não era nem é minha praia. Eu lhe perguntava como era esse negócio de ser romântico. Ela respondia que só por ter que ensinar já mostrava que não valia a pena.

Caralho, muita gente já havia dito que eu não valia de nada, mas nunca alguém tão bonito como Meirianne. Em apuros, recorri a quem sempre ajuda nessas horas: Gabrielo. Taí amigo pra todas as horas. "Gabrielo, preciso de uma dose de romantismo para voltar com minha pequena". Rude, mas sensível ao mesmo tempo, Gabrielo me emprestou a coleção de Sabrinas, Júlias, Biancas e afins. Ensinou a fazer ponto e cruz e disse para não ter vergonha de chorar na frente dela (aliás, disse pra chorar mesmo que não sentisse vontade) e, principalmente, para presentear-lhe com flores.

Tava aceitando tudo, mas essa última parte não. Flores, nem pensar. "Porra, Gabrielo, pra que serve flor?" Não, nem pensar. Não serve de nada. Disso sabia e não ia ceder. Fiz o dever de casa e, dois dias depois, voltei á casa da Meiri.

Lá eu pedi de joelhos e com lágrimas nos olhos para uma conversa, tipo debater a relação. Reticente ela aceitou. Disse que gostava muito dela, a achava sensacional, especial e, acima de tudo, inteligente (o que um homem não faz pra uma garota baixar a calçola?). Garotos, tava dando certo. A moça cedia e até esboçava um sorriso.

Mas, precavido como sou, tinha uma arma secreta escondida na minha Rural caso a investida inicial mostrasse-se infrutífera. Não estava, mas meu orgulho falou mais alto e resolvi fazer uso dela.

Em tempo, antes de ir ao encontro fui à reunião semanal do AA conversar com meu pai. Lá contei por alto o meu caso e ele, com sua sabedoria adquirida em anos de pés sujos, concordou comigo quanto à inutilidade das flores. Disparou: "Filho, mulé realmente gosta dessas coisas de romantismo e não há nada mais romântico que uma cesta básica. É tiro e queda. Pá e te aquieta".

Quando meu finado pai falava, tava dito. Era batata. Antes do encontro fui no melhor supermercado com a lista de cesta básica padrão feita pelo Procon: arroz, feijão, açúcar, café, farinha de trigo e de mandioca, batata, cebola, alho, ovos, margarina, extrato de tomate, óleo de soja, leite em pó, macarrão, biscoito, carne de primeira e de segunda, frango, salsicha, lingüiça, queijo, sabão em pó e em barra, água sanitária, detergente, papel higiênico, creme dental, sabonete e desodorante.

As chances de me dar bem eram quase todas. Pois bem, quando ela já tava me aceitando de volta resolvi dar o golpe de misericórdia e disse que buscaria uma surpresa no carro. Eu que não sou bobo tratei de mandar fazer um embrulho bem bacana. Ela me viu com aquele presentão e os olhos brilharam. "É hoje", pensei.

Depois de alguns beijinhos ela desembrulhou o caixote com sofreguidão. Ela ficou sem palavras e me olhava fixamente. Crente que tava abafando. "É toda sua benzinho. Tomei a liberdade de comprar a versão feminina, com a inclusão de um pacote de absorvente. Também acrescentei uma quarta de charque ponta de agulha para fazer o tira-gosto de mais tarde".

Depois de quase cinco minutos em silêncio ela pediu licença e entrou. Levou a caixa. Logo depois ela retornou com o irmão marombeiro a tiracolo e mandou ver; "Tá pensando que sou teu palhaça? Some daqui e nunca mais aparece!". Fui embora.

Passei acordado a noite toda. Um pensamento não me saía da cabeça: "Porra, ela tinha que ficar com a cesta básica?".

Nuca a esqueci, tanto que, mesmo passados 22 nos, quando a vejo na rua me escondo e grito: "MEIRI, VAI TOMAR NO CU!".

Abraços.


postado pelo Doda Vilhena. às 23:41 | link

1 Comentários:
Anonymous Anônimo disse...

Lembro da primeira vez que ganhei um buquê de rosas. Tinha 16 anos, foi 1997. Foi uó ver meu presente se desfazendo na minha cozinha.

Já quando lembro que genhei duas contas de celular pagas de presente no Dia dos Namorados de 2000, ai, fico emocionada... Foi grana economizada para o cabeleireiro e etc.
Um jeito inteligente que meu namorado arrumou de me fazer feliz e me mandar ficar mais ajeitandinha... hehehehehe

17/4/06 17:50

 

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