Odeio shopping center. Em toda a minha vida só fui ao shopping pra duas coisas: tirar cópia da chave do meu saveiro e comprar o presente de casamento da Wylenne. É minha prima do interior. Tá casada com um fazendeiro de Goiás e pega duas surras por semana para saber quem é que manda.
Por isso foi muito a contragosto que acompanhei Claudecir, irmão da Wylenne, quando ele veio aqui e quis ir comigo ao shopping “produzir um visual”. Sujeito estranho esse Claudecir, ouve uma tal de música rave, anda com uns rapazes todo perfumados e voltou de São Paulo cheio de mecha loira no cabelo. Quando a gente era criança lá em Igarapé Açu, Claudecir não jogava bola e nem subia em árvore. Só queria saber de jogar cemitério com as meninas e dançar música das Patotinhas na frente do espelho.
Chegamos ao shopping e fomos direto para um negócio chamado Ópera Rock. Pra mim ópera é coisa de viado e rock coisa do demônio. Saí puxando Claudecir de lá de dentro antes que eu me aborrecesse. No caminho dei-lhe uns tabefes pra ele se acalmar.
Claudecir estava só nervos. Não parava de falar numa tal de calça santropês (sei lá que diabo é isso) e dava uns chiliques de vez em quando. Só parou quando entramos em outra butique. Meio esquisita, com umas roupinhas justas e um vendedor que era a cara do Freddie Mercury.
Fiquei no meu canto e não dei bola pra ninguém. Vieram me oferecer uma roupa três números menor que a minha e eu não falei nada, vieram me vender uma saia xadrez e eu só olhando. Até que um outro rapaz magrinho e com um cabelo igual ao do Augustinho Limonta enfia em mim uma bata cheia de lantejoulas e diz: “ai, isso vai ficar tu-doooo quando você botar no seu closet”.
Rapaz, certas coisas na vida têm limite. Não contei conversa e fui logo metendo a mão. O Freddy Mercury correu pra ajudar e agatanhou a minha cara. Dei-lhe uma tesoura voadora direto no peitoral que fez ele atravessar a loja e cair em cima de uma pilha de caixas de sapato que estava na frente de Claudecir. Sai quebrando tudo. No meio da confusão, meu primo só chorava (estranho é que ele estava com um olho verde e outro castanho e com a cara toda borrada). Fugi antes da polícia chegar. Ontem Wylenne me ligou dizendo que Claudecir está desaparecido até agora. Não tenho culpa, meu closet é igual à descarga de fusca: só tem saída, entrada, neca. Pode fazer o teste da farinha.
postado
pelo Anônimo às 17:17 | link
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