Nunca gostei de música dor-de-cotovelo. De nenhuma espécie, nem das interpretadas pelas minhas bandas de rock favoritas. Não tem nada a ver com repressão de sentimentos ou anti-romantismo, minha relação com música sempre foi mais pra cima, sabe? Ouvir em momentos de festa, alegria, para relaxar no trabalho, arremessar mesas em bares ou quebrar garrafas na cabeça de garçons desonestos, nunca para me deprimir ou choramingar. E outra, é difícil falar de amor e não ser brega, também por isso evito esse romantismo musical. Sinto-me meio ridículo cantando que não vivo sem você, por que você foi embora ou que sou corno.
Mas parece que o cara quando compõe uma música para cotovelos doloridos, mesmo sabendo que a letra não é lá essas coisas, sabe que uma hora ou outra vai pegar algum desavisado na rua da amargura que vai escutar, se identificar e o pior, gostar daquela porcaria.
Confesso que em minha primeira desilusão amorosa vivi momentos de extremo ridículo ao identificar em um clássico do repertório de Djavan, uma parte da história que dilacerava meu coração naquele momento. “Oceano” é o nome da maldita música. Lembre da letra e repare que não faz sentido. São frases coesas, porém sem nenhuma preocupação conectiva entre elas. Claro que nego veementemente qualquer acusação que faça menção ao episódio, este é um assunto que fica somente entre nós, caro leitor. Sempre soube que Djavan era um horror e que empregava seu parco talento para o mal. E os militares perseguindo o Chico, veja só.
Após muitas choradeiras de boteco e algumas outras desilusões amorosas, o trauma da identificação de alguma história minha com músicas românticas parecia superado. Mesmo no fundo do poço (e sempre no fundo do poço tem um radinho tocando músicas de corno), passei a bloquear mentalmente qualquer tentativa de artistas medíocres atingirem meu coração com meladeiras de 2ª categoria.
Mas eis que, mesmo com alguma experiência na área do fracasso sentimental e vacinado contra a breguice mal disfarçada de artistas que não sabem fazer música, caí em uma armadilha do rock.
O rock parece amor de puta. Você sabe que ela gosta de você, já viveram momentos felizes, ainda podem viver muito mais. Mas inevitavelmente você será traído. Mas sem desespero, é apenas uma questão estratégica: estudar todos os possíveis cenários e estar preparado para os piores, ou seja, uma garrafa atirada no palco quando a banda for ruim ou um tapa na cara da vagabunda “pre’la saber com quem tá se metendo”.
Mas como ia dizendo, o rock, este ordinário, me pregou uma peça. Cavucando bandas desconhecidas na Internet, deparei com uma que classifiquei de “bacaninha”. Gostei do som, estava ouvindo tranqüilamente no computador quando uma das letras começou a atrair minha atenção por descrever uma situação que eu estava vivendo. Ao final, apertei no repeat...quando dei por mim já estava cantando o refrão e lembrando daquela que me maltratava no momento específico. Droga, fui vencido novamente. Snif.
“Eu vim te ver
Me deixa entrar
Eu sei é tarde
Mas vem que é hora de
Se entender
Vai me deixa entrar
Eu sei é tarde
Mas vem que é hora
Da gente se entender
Da gente se aceitar
Eu sei é tarde mas vem”
O cotovelo do cronista no ortopédico raio-x de Messias Jardan.
postado
pelo Doda Vilhena. às 00:02 | link
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