Texto feito por Wilson Cremonese e que não foi selecionado para a antologia de contos da antiga Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (Fcap). Aliás, nenhum outro texto dele foi aprovado, mas esse foi o único que sobreviveu ao incêndio que devastou a Passagem Coelhinho em 1978. O Ressaca Moral o republica em festejos à semana que antecede o aniversário do Rei do Hidrovácuo.
Quando nasceu, ele foi recebido com uma festa que não tinha mais tamanho na Passagem Coelhinho. Os pais queriam um filho havia muito tempo e ele foi a concretização de um sonho. Os familiares e os vizinhos compartilharam da alegria e mal comentavam algo que estava na cabeça de todos: o bebê era feio que doía. A mãe não dava trela e, às noites, entoava a canção de ninar para seu novo amor: "Lindo, lindo, lindo, seu nome é Arlindo".
"Com a idade a feiúra se espalha e ninguém vai reparar", costumavam dizer os mais velhos. De fato, a feiúra se espalhou de tal modo que Arlindo ficou horrendo. Era todo feio. De cara e de talho. Parecia um velocípede na sacola de tão torto.
Era o motivo das maiores chacotas dos amigos. Essa situação mudou quando Marilinda tornou-se sua vizinha. Essa sim fazia jus ao nome. Linda como as palavras não podem descrever. Alta, bem feita de corpo, pele alva como a neve que cobre a Antártida, cabelos negros que deixariam Iracema no chinelo e só não lembrava uma deusa grega porque seria dar muita moral àquelas meninas do Monte Olimpo.
Marilinda era o alvo de todos os carcarás do pedaço, mas, por um motivo que até hoje os maiores cientistas se debruçam, se engraçou com Arlindo. Olhares pra cá, encontros noturnos pra lá e o namoro começou. A mãe do Arlindo chegou a brigar com o coitado, acusando-o injustamente de ter feito um pacto com o Demo para fisgar o amor de tal formosura.
Para ela não foi fácil também. Apanhou da mãe, das amigas, das colegas de trabalho, do fotógrafo que fez o registro de noivado e quase foi acertada por um raio. No entanto, ela agüentou a tudo e a todos por causa da paixão.
Outro agravante é que Marilinda era estudada, tinha um bom emprego e subia na vida. Arlindo morava num puxadinho na casa dos pais e distribuía panfletos nas ruas.
Os dois se casaram e o ponto alto da cerimônia foi o momento do sim. A igreja toda estava em suspense até Marilinda dizer que aceitava o noivo. Ouviu-se apenas um longo "Aaaaaahhhhhhhhhhhhhhhh".
Os anos seguintes não foram de felicidade, pelo menos para Marilinda. O fato é que Arlindo passou a ser aceito por todos, já que o casamento estava consumado. Mas, o que aconteceu em seguida foi estarrecedor. A mulherada, intrigada como um cara horrível tinha conseguido casar-se com aquele espetáculo ambulante, ficou curiosa e passou ao assédio explícito.
Arlindo não se segurou. Passou a ser o maior galinha do pedaço. O casamento durou sete anos até que Marilinda deu um ponto final nas infidelidades. Nunca mais se juntou a ninguém, limitando-se a criar os gêmeos Suelen e Johnatans, ambos feios que davam dó.
Arlindo, de rejeitado passou a ser o xodó do mulherio. Só, nunca mais. Casou com uma coroa e mudou-se para a Bélgica para nunca mais ser visto.
Até hoje, na Passagem Coelhinho, bairro da Pedreira, as crianças brincam de roda entoando "Lindo, lindo, lindo, seu nome é Arlindo".
postado
pelo Anônimo às 18:51 | link
1 Comentários:
passagem coelhinho da pedreira?? onde acontecem aqueles bingos (que pobreza!!) com uma aparelhagem PODRE de brega (que só toca brega, ARGH) até 22h30?? um dia a polícia vai chegar lá e acabar com essas festas horrorosas de cortiço!! sinceramente, podiam IMPLODIR essa passagenzinha DE MERDA!!!
26/9/10 22:29
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