Eu nunca fui de dar muita confiança para mulher. A Marielza, minha senhora, só pode abrir a boca para dizer “sim senhor”, “não senhor” e “acuda vizinha”. Dia desses, ela veio com uma história de me mandar fazer limpeza de pele. Dei-lhe uns tabefes e despachei ela direto pro tanque. Digo e repito: mulher é uma desgraça, rapaz. Se tu dá confiança elas começam a sair sozinhas na rua, a se maquiar, a trabalhar fora e a pedir pra ir dançar na boate. Daqui a pouco tão querendo até usar calças jeans.
Sou assim e não vou mudar. Deve ser por isso que a Dona Myrtes, minha sogra, me odeia. Desde que casei com a Marielza ela faz de tudo para a gente de separar. Já botou meu nome na macumba, já chamou a polícia para apartar uma briga nossa e liga pra cá todo dia para falar mal de mim. Só não meto a mão na cara porque ela é casada com o seu Hermógenes. Militar reformado e ex-interrogador do Doi Codi, ele tem uma coleção de pistolas 7.65, um olho de vidro e expele uma pedra do rim por dia sem nem dizer um “ai”. Tem que respeitar.
É por essas e por outras que achei estranho quando a Dona Myrtes me presenteou com um quilo de feijão da colônia, aqueles de fazer baião de dois, comida de macho. Aceitei, pois não sou de recusar presente. Mas, ainda assim, fiquei ressabiado. Sabe-se lá o que ela estava aprontando.
Rapaz, bem que eu estava certo em desconfiar da velha. O tal do feijão tava cheio de caruncho. Mal abri o saco e voou besouro pra tudo que é lado. Tudo estragado. Era besouro na geladeira, na lata de leite, no forno, debaixo do colchão, dentro do guarda-roupa, na televisão, no vaso sanitário...Não dava nem pra dormir, pois tu acordava cheio de bicho no corpo. Desesperada, Marielza fez as malas e fugiu. Foi direto pra casa da mãe. O plano da Dona Myrtes de usar armas biológicas contra o meu casamento havia funcionado.
Mas como não sou homem de desistir fácil, procurei o Pereira, meu amigo de carteado, e pedi emprestado a ele o Maycon, o iguana panamenho que ele cria desde criança. Minha idéia era simples: soltar o Maycon em casa e deixar ele comer todos os insetos.
Não funcionou. Levei um tempo para descobrir que, na verdade, o Maycon, igual aquele outro dos Estados Unidos, não era exatamente “um” iguana e, sim, “uma” iguana. E pior: estava ovada. Dois dias depois deu cria e cinco lagartinhos saíram do ovo: Jéssica, Charles, Wander, Rodrigo e Patrick (os nomes fui que dei porque lagarto não entende dessas coisas). Maycon, preocupada em cuidar da cria, não quer mais nem saber de caçar os besouros, que se multiplicam numa velocidade assustadora. Já faz duas semanas que essas pragas se instalaram aqui em casa. É tanta desgraça que chega até a me dar saudades do tempo da Dona Myrtes. Eu já larguei de mão. Hoje tem Palmeiras e Corinthians. Vou acompanhar pela televisão. Companhia para ver o jogo é o que não vai faltar.
postado
pelo Anônimo às 12:25 | link
1 Comentários:
cuidado seu Solemar! esta e so a 1ª, de 7 pragas q lhe atingirao... um de seus colegas de site pode lhe dar algumas dicas.
23/3/05 20:41
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